segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O último dia de fevereiro

Hoje. Último dia de fevereiro. Último significativo dia de fevereiro. Para uns, apenas mais um dia. Para outros, o dia mais feliz, o dia mais triste, um dia a menos, um dia a mais. Para a maioria, o dia que não viram passar. E o tempo corroer na sua mais magnífica obra que nos faz pertencentes à natureza. Hoje, aniversário, quem sabe, para alguns? Ou talvez para o alguém mais importante. Alguém importante, sim. Alguém que não se importa de falar sobre aniversário. Ou alguém que não gosta de falar sobre essas coisas e sobre o tempo...? Alguém que nem se importa com aniversário! Talvez... Aniversários podem ser relevantes ou não. Depende de como cada um lida com isso. Quanto a mim, ao dia, foi um dia! Um dia e tanto! Cheio de complexos significados antitéticos e sentidos paradoxais. Um dia que vai ficar marcado. Uma marca de vida. Um dia, com os sentimos mesmos de aniversário, para alguns. Alguns sentem apenas um, outros, apenas sentem o outro. Eu sinto os dois, e ao mesmo tempo feliz, mesmo não querendo sentir ambos. Ao mesmo tempo um peso, uma carga, algo que se sente: mãos, face, coluna, pernas, tempo, olhos... Principalmente olhos. Ao mesmo tempo um brinde pela vida, pelo tempo realizado, pelas obras e planos construídos ou ainda por construir, pela FORÇA de poder construir esses planos... FORÇA! Hoje uma força inexplicável, como força ambígua. Como a força das montanhas de Minas. Inexplicável como as montanhas de Minas. Solitárias e ao mesmo tempo coletivas. Que mesmo sozinhas ou em cadeias, transmitem FORÇA. Introspectivas.... Carlos Drummond. Hoje paradoxos, antíteses, montanhas, Minas, Drummond.... Hoje, aniversário. Não para mim, mas para alguém digna da FORÇA, das montanhas, de Minas, da obra de Carlos Drummond... Hoje estou aniversário, mas não o faço. Hoje estou Carlos Drummond. Estou José.

( Para você, FORÇA, montanhas, Carlos Drummond. Acho que é o que eu mais gosto dele. Para você, algo digno de você: Minas )


JOSÉ
( Carlos Drumond de Andrade )


E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Ainda o princípio...

Antes de qualquer coisa, gostaria de deixar claro que existiram várias motivações para a criação deste, que ainda em construção. Motivos que serão citados minuciosamente. Mas isso será posteriormente, pois cabe aqui o cuidado e carinho que eles merecem.


No começo, era o princípio. Por isso, quero começar com o início. Assim como quero acabar como tudo começou. E o começo é a origem. A razão de tudo. Tudo pode mudar, podem existir desvios e repulsões, transtornos e transgressões. Mas não há como negar a origem. É a ela que voltaremos. É a ela que sempre recorreremos. A origem entre tantas outras coisas representa também a formação, a constituição das vísceras, as entranhas das raízes. Aqui, teremos primeiro, a origem.

Para tentar demonstrar um pequeno fragmento dessa origem vou recorrer a idéias de várias mentes, portanto, idéias fragmentadas. Fragmentadas, mas organizadas e coerentes em seu ponto comum. Não coerentes em si mesmas, mas em seu ponto comum. Mentes talvez tão fragmentadas quanto a minha, mas com um diferencial: mentes geniais. Pessoas que se fizeram geniais com mentes maravilhosamente especiais e transcendentes. Enquanto eu, sou apenas eu. Apenas tentando ser.

Com o tempo perceberão que minha relação com certas coisas é muito significativa e importante. Uma dessas coisas é a banda Legião Urbana que muito representa para mim e faz parte da minha existência. E será algo que sempre virá à tona, por se tratar de um assunto constante. Faz parte também do começo, do estímulo primeiro que trouxe em si todas as outras razões. A música a seguir faz parte do álbum DOIS da Legião Urbana, lançado em julho de 1986. Não é o disco mais bem produzido da banda, por se tratar do segundo lançado e de a banda estar num estágio de amadurecimento. Mas é sim o álbum mais completo. No disco DOIS temos reunidas todas as características da banda, de tudo que ela seguiu e de tudo o que havia seguido até então. Temos a síntese de toda história da banda e de sua produção. DOIS é a proposta inteira de tudo que a Legião pretendia e conseguiu. As temáticas das letras abrangem o todo: protesto, intimismo, política, reflexão, poesia, revolta, catarse, denúncia, história, etc. Além disso, temos a capa do disco que é a mais bonita de todos os discos já lançados. Simples, completa e infinitamente simples. Mas é justamente aí que se encontra a maior beleza. A beleza que não tem critérios nem divergências: a simplicidade. Enfim, o DOIS é a coerência completa da Legião Urbana como banda. É isso. Por enquanto, ficaremos com o início:



ANDREA DORIA
(Dado Villa-Lobos/ Renato Russo/ Marcelo Bonfá)


Às vezes parecia que, de tanto acreditar
Em tudo que achávamos tão certo,
Teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais:
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços de vidro.

Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente,
Quase parecendo te ferir.

Não queria te ver assim –
Quero a tua força como era antes.
O que tens é só teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada.

Às vezes parecia que era só improvisar
E o mundo então seria um livro aberto,
Até chegar o dia em que tentamos ter demais,
Vendendo fácil o que não tinha preço.

Eu sei – é tudo sem sentido.
Quero ter alguém com quem conversar,
Alguém que depois não use o que eu disse
Contra mim.

Nada mais vai me ferir.
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada que eu segui
E com a minha própria lei.
Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais,
Como sei que tens também.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Início: Construção

" O segredo da existência humana consiste não somente em viver, mas ainda em encontrar um motivo de viver. "

Fiódor Dostoiévski